terça-feira, 31 de março de 2009

O Ano Paulino na visão e D. Joaquim Gonçalves

Refletindo com D. Joaquim Gonçalves –Bispo de Vila Real sobre o Ano Paulino...
Com o intuito de estimular a leitura das cartas de Paulo aos cristãos de Corinto, uma das cidades por ele evangelizadas juntamente com Atenas, Éfeso, Roma e outras.
Este ambiente de grupos sociais, de espiritualidades filosofadas e de anarquia sexual, era, por si só, suficiente para deixar hesitante qualquer apóstolo. Pois é a esta multidão, heterogênea e desorientada, de meretrizes e rufiões, que Paulo vai anunciar a pessoa de Cristo morto e ressuscitado! Permaneceu aí dezoito meses e até foi bem sucedido, pois o ceticismo e a confusão abriam os espíritos «para mais um culto». As dores de cabeça vieram depois quando foi necessário organizar a vida pessoal de cada cristão e da comunidade.
De Corinto escreveu Paulo a carta aos Romanos onde descreve em termos duros a corrupção dos gregos (Rom 1,16,18-32) e, mais tarde, repreenderá os coríntios cristãos enviando-lhe uma carta de Éfeso quando aí se encontrava (1Cor 5; 6; 10). Paulo não se limitou a despejar sobre os Coríntios maldições de Sodoma e Gomorra, mas procurou educar-lhes a sensibilidade e a inteligência recorrendo à imagem das corridas no estádio e, a partir da ressurreição de Jesus, proclamou a dignidade do corpo como templo do Espírito Santo. Mais tarde faria o mesmo acerca da escravatura ao introduzir na reflexão a dignidade da pessoa.
Os «grupos rivais», as «espiritualidades sentimentais» e «anarquia sexual» constituíam o tecido social de Corinto. As grandes cidades de hoje não andam longe deste cenário, e não é novidade para ninguém que tudo o que se relaciona com a sexualidade enche hoje páginas de livros e jornais, revistas de fim-de-semana. As imagens e textos na Net parecem as novas ruas de Corinto. A desorientação sexual é fonte de negócio em noites de sexta e sábado e tardes de Domingos, de viagens turísticas, de indústrias farmacológicas e clubes de «investigadores», de feiras e festivais eróticos, e agora de leis civis. Afinal, nada disso é progressista, mas simples repetição do passado.
Há, porém, entre o mundo helênico e o nosso uma diferença cultural: a desordem sexual das cidades gregas evangelizadas por Paulo tinha um resto de sacralidade pagã, ao passo que hoje ela alimenta-se do laicismo triunfante e do pretenso estatuto «científico» e do «direito à liberdade» e aos «afetos individuais». Reveste até uma conotação de militância política e ideológica, desviando os cidadãos de uma reflexão serena e objetiva, aliciados pelo caráter de «novidades» e «liberdades». Para todos os pais e educadores, pastores da Igreja e médicos, enfermeiros e assistentes sociais, esta onda constitui um desafio.
Dentro da dinâmica pastoral proposta pelo Ano Paulino, o leitor leia devagar as duas cartas aos Coríntios que retratam os três males da comunidade: «grupos rivais dentro da Igreja», «tendência para espiritualidades sentimentais» e «anarquias sexuais» (1ª Carta aos Coríntios, sobretudo 1, 10-16; 5; 6,12-20). A esses três desvios Paulo respondeu com três propostas para a comunidade cristã: a Igreja como «corpo» variado e unido sem ser uniforme, os «carismas e ministérios» na Igreja, e o «sentido pascal do corpo humano» no casamento e na vida consagrada.
Faça o paralelo da «pastoral de Corinto» com o nosso tempo: Que grupos apostólicos há nas paróquias e que união existe entre eles? Que devoções e obras de espiritualidade? Que movimentos de educação da afetividade sexual?
Na base daqueles três desvios dos coríntios estava o egocentrismo de pessoas e grupos, da afirmação pessoal. É a hora de remover essa mentalidade e de preparar os mais capazes, de cultivar as várias devoções, e de fazer a educação da complementaridade afetiva da pessoa humana no casamento e na família. Nascerão assim as comunidades previstas no Vaticano II, «a Igreja de carismas e ministérios» que sucede à Igreja de «multidões caladas e inertes diante do Pastor» (1Cor 7;12;14). Haverá dores de cabeça, mas é esse o caminho a seguir (2Cor 6,11-18;13).

Coordenação Paroquial dos Grupos de Famílias
Marlene K Colombo

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