sexta-feira, 26 de março de 2010

IMANÊNCIA NA ÓTICA DA RESSURREIÇÃO

A festa da Páscoa é o centro da vida cristã, um evento milagroso que aponta para uma realidade de significado mais amplo, percebido somente por quem faz a experiência de fé e amor. É a festa da vida, vida do Cristo ressuscitado e de todos os cristãos.

Em que consiste a espiritualidade, a mística da Páscoa? O nome Páscoa surgiu a partir da palavra hebraica “pessach” que significa passagem. Para os hebreus, o fim da escravidão do Império Egípcio, marcada pela passagem dos filhos de Israel pelo Mar Vermelho, rumo à terra prometida! Para nós é a passagem de Jesus Cristo da morte para a vida: a Ressurreição. A passagem de Deus entre nós e a nossa passagem para Deus. É a festa das festas, a solenidade das solenidades, marcada pela alegria, com promessas de vida nova, de partilha familiar. Eis aí a mística da Páscoa: em nossa imanência, acolhendo a vida nova de Jesus que se plenifica em nossa Transcendência.

Como seres de enraizamento, mergulhamos na totalidade do Transcendente, ainda que enraizados aqui, em nossa imanência. Porque é provisória, traz consigo angústias na busca de respostas urgentes para elucidar o desconhecido e entender teorias e mitos sobre a morte. O próprio Jesus se angustiou diante da proximidade de morte: “Minha alma está agora conturbada. Que direi? Pai, salva-me desta hora?” (Jo 12,27). A festa da ressurreição celebra o triunfo da vida contra todas as forças que se opõe a ela, projeta uma luz esclarecedora sobre essas realidades fundamentais.

A certeza de que a vida não termina com a morte, são os referenciais necessários para permitir uma caminhada segura pelas estradas desse mundo e fundamentar que não luta em vão aquele que foi criado para o Transcendente. O túmulo aberto e vazio indicando que o corpo de Jesus não mais se encontrava ali é o sinal da vitória: Ele está vivo, presente no meio de nós! Um sinal não é simplesmente um evento milagroso, mas algo que aponta para uma realidade de significado mais amplo. É como os sinais de trânsito, que servem para orientar, de sorte que ninguém erre o caminho ou sofra um acidente. Assim torna-se possível descobrir atrás dos fatos presentes em nossa imanência, a presença de um Deus vivo, que não quer a morte do ser humano, mas a vida em plenitude, cujo projeto de salvação se estende sobre a história humana até sua plena realização no Transcendente e que só podem ser percebidos por quem faz a experiência de fé e amor.

Essa dimensão de abertura ao Transcendente rompe barreiras que vão além de todos os limites do ser humano, pois só ele é capaz de projetar-se para fora, por que tem dentro de si o Infinito, que proporciona um senso de otimismo, que o faz viver, mesmo constatando à sua volta que a morte é a grande senhora de tudo o que é criado, pois tudo é mortal.

Quando escolhemos a vida, renovamos a Esperança. É no Senhor que repousa nossa confiança e toda a nossa esperança, pois “onde não há esperança não tem lugar para Deus” (Bento XVI). Fora disso, cultivamos uma cultura de morte, continuando na sepultura, presos pela pedra que fecha a entrada do sepulcro.

A Páscoa é a ocasião privilegiada para a renovação do compromisso com a vida, da esperança que supera os medos presentes em nossa imanência e converge para o Transcendente que Jesus com sua ressurreição nos mostra já agora, o que herdaremos depois. Então, nesta Páscoa ecoe forte entre nós e dentro de nós: a vida venceu a morte.

Padre Vilmar Moretti, Paróquia Nossa Senhora da Salete – Páscoa 2010

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